sábado, 9 de abril de 2011

O Sacerdócio no Templo Sagrado

Me apropriei das reportagens sobre o ocorrido em 07 de abril, Realengo, Rio de Janeiro, só agora a pouco.

Então escrevo pra falar sobre o que estou sentindo e para dizer que quero saber o que vocês estão sentindo.

Quis colocar alguma coisa aqui que me fizesse bem e aos que visitam este espaço virtual, que fizesse bem para nós, porque é fato, não estamos bem.

Não consegui traduzir através de palavras minhas, nem tão pouco encontrei um vídeo, um texto, uma imagem que sozinhos pudessem cumprir essa tarefa.

Pensei em fazer um mural na escola com palavras e imagens de coisas boas, na tentativa de aplacar o mau e os males... Em reunir todo mundo e fazer uma oração, mesmo sabendo que a escola é laica. Ainda que fizéssemos nesse caso, um minuto eterno de silêncio que grita. Qualquer coisa que nos colocasse juntos, mas juntos mesmos, serviria.

Quis ligar pra cada pessoa que eu conheço pra dizer o quanto são importantes para mim, e mesmo que sejamos diferentes (ainda bem!), e que não concordemos em tudo (ainda bem ao quadrado), dizer que as gosto muito e que são extremamente importantes para mim, na medida em que entendemos o funcionamento do mundo como a estrutura de uma teia de aranha, onde um fio se liga ao outro e forma o TODO.

Fiquei matutando uma forma, um meio que fizesse dos meus pensamentos uma ação palpável nessa busca. Bolei um plano mental que talvez fosse um bom projeto para nós. O plano do projeto anjo. O projeto Anjo da Guarda. A expressão (palavra) Anjo da guarda significa: 1. Espírito celeste que se crê velar sobre cada pessoa, afastando-a do mal e inclinando-a para o bem; anjo custódio. 2. Pessoa que protege, que defende outra. Eu gostaria que cada um de nós nos tornássemos um pouco anjos de nós mesmos e dos outros. Queria estar sempre inclinado ao bem e afastado do mal, queria estar protegido... Queria velar por você, te proteger, te defender dos males e do mau.

A escola sempre foi pra mim um Templo Sagrado. Nossa profissão um sacerdócio. Já fui muito criticado por afirmar tais coisas. Não ligo. Sei porque as digo. Os verbetes do dicionário Aurélio de Língua Portuguesa esclarecem:

Sacerdócio.
4.Fig. Qualidade de venerável, nobre, superior.
5.
Fig. Missão ou profissão honrosa.

Templo.
6.Fig. Lugar misterioso e respeitável.
7.
Recordação eterna das ações memoráveis.

Sagrado.
4.Profundamente respeitável; venerável, santo.
5.
Que não deve ser tocado, infringido, violado.

Nossa profissão é venerável, nobre, não superior, pois cada ofício possui sua importância para o funcionamento da vida. Nossa profissão é missionária, é honrosa!

A escola é um templo! É um lugar de mistério e deve ser respeitado. Sem contar que será palco para recordações eternas, e mais para além disso, é a própria recordação eterna das ações memoráveis.

A escola é sagrada! Deve ser profundamente respeitada, venerável, intocável, inviolável, no que se refere as coisas negativas, ruins.

É na escola que passamos boa parte dos nossos dias, de nossas vidas. A escola, um dia li em algum lugar: "não é um ensaio para a vida, é a própria vida". Não dá pra ficar ensaiando tanto tempo, não haveria tempo para estrear.

Não importa se professores ou alunos, ou as duas coisas ao mesmo tempo, sempre aprendemos e ensinamos, até na hora da morte, somos alunos de aula particular de matéria inédita e ensinamos algo em momento tão crucial.

O fato é que a vida está ligada à escola, e o contrário é também verdade. Que vida estamos vivendo na escola? Em que escola estamos vivendo?

Não quero escrever o nome da Escola, palco da tragédia. Não quero ouvir o nome dos meninos e meninas que não estarão mais dentro dela. Não quero ver a foto, ou ouvir falar daquele que foi aluno daquela escola de nome impronunciável para mim, assim como o será o nome desse sujeito daqui por diante. Não quero que esse meu ato seja entendido como uma forma de fechar meus olhos e ouvidos para realidade, fingindo que nada aconteceu, como um alienado ou insensível. Só não quero dar mais força, pra algo que já ficou tão forte. Aconteceu lá, mas poderia ter sido em qualquer lugar, inclusive aqui! O acaso não existe, mas será que este episódio não foi produzido? E ainda que tenha sido produzido por pessoas de maneira intencional ou não, não seria obrigação do ser humano que atinge a idade adulta se livrar de maneira saudável dos seus conflitos internos e questões não tão bem resolvidas, os tais traumas?

Acho improdutivo a discussão que busca culpados, inocentes, causas, efeitos, quando tudo já culminou em algo tão triste. Acredito no trabalho que previne, não no trabalho que busca remédios.

Lembro-me da professora assasinada a poucos dias atrás, antes das 7 horas da manhã, no estacionamento de sua escola. Recordo também do garoto morto recentemente numa escola em cidade vizinha a nossa, vítima de um tiro com autor desconhecido. Um vídeo mental percorre minha cabeça com as tantas nóticias violentas que ocontecem dentro de escolas, vitimando professores, alunos, famílias, GENTE.

E talvez minhas palavras estejam todas desencontradas aqui, certamente se somem a inúmeras matérias jornalísticas de palavras igualmente desencontradas, as quais eu não quero ler, ou ver. Penso que talvez você também não queira ouvir este ou qualquer outro texto que verse sobre o assunto. Mas, o mais importante, é que acredito ter encontrado a resposta para esse sentimento! Não queremos mais que coisas assim aconteçam, quer seja com a gente, perto de nós, ou em qualquer lugar. Não queremos ver, nem ouvir notícias assim, porque existe dentro de nós uma vontade, ainda que tímida, de que todas as coisas se processem de maneira diferente, ao ponto de nunca mais ouvirmos algo parecido. Pode soar como um sonho meu, um devaneio, imaginar que histórias como essas nunca mais se repitam, mas prefiro acreditar que o ser humano não existe para sofrer ou fazer sofrer.

Por fim ao meu desabafo recheado de sentimentos tão meus, e provavelmente teus, nossos, eu concluo dizendo assim:

"EU SÓ QUERO VIVER EM PAZ!"


Um beijo,

Renato

São Paulo, 09 de abril de 2011. 19h03.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muio bom, Renato, vc conseguiu traduzir e muito o sentimento de muitas pessoas diante deste triste acontecimento, e tenho certeza que nenhum de nós, educadores e educandos, ficaremos de braços cruzados diante de tamanha barbárie. já começo minha luta falando aos alunos e pais sobre como fazer a paz! um grande abraço!
Ana Paula

Anônimo disse...

A Paz
invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me nterro mais...
Bjs Ana Paula